terça-feira, 13 de março de 2012

Por que não te matas?

Porque não repousa sobre nada, porque carece até mesmo da sombra de um argumento, é por isso que preservamos a vida. A morte é por demais exata; todas as razões se encontram ao seu lado. 

(Emil Cioran)

A mecanicismo aliena do vazio

Assim como agora me visto e saio, vou visitar o professor e troco com ele algumas frases amáveis, mais ou menos falsas, tudo isto contra minha vontade, assim procede a maioria dos homens que vivem e negociam todos os dias, toda as horas, forçadamente e sem na realidade querê-lo; fazem visitas, mantêm conversações, sentam-se durante horas inteiras em seus escritórios e fábricas, tudo à força, mecanicamente, sem vontade; tudo poderia ser realizado com a mesma perfeição por máquinas ou não se realizar; e essa mecânica eternamente continuada é o que lhes impede, assim como a mim, de exercer a crítica de sua própria vida, reconhecer e sentir sua estupidez e superficialidade, sua desesperada tristeza e solidão. E têm razão, muitíssima razão, os homens que assim vivem, que se divertem com seus brinquedinhos, que correm atrás de seus assuntos, em vez de se oporem à mecânica aflitiva e olharem desesperados o vazio, como faço eu, homem marginalizado que sou.

(Hermann Hesse - O lobo da estepe)