Em um lugar próximo à entrada, uma estalagmite vinha crescendo lentamente desde o solo da caverna, erguendo-se milímetro após milímetro durante séculos, construída pelos pingos d'água que caíam de uma estalactite que descia do teto. O cativo tinha quebrado a ponta desta estalagmite e, sobre o toco, colocara uma pedra na qual escavara um côncavo de pouca profundidade, a fim de apanhar a preciosa gota d'água que caia uma vez a cada vinte minutos, com a regularidade monótona de um relógio – no total, uma colher de sobremesa a cada vinte e quatro horas. Aquela gota já caía quando as Pirâmides do Egito eram uma construção recente; quando Troia foi tomada pelos gregos; quando foram lançados os alicerces de Roma; quando Cristo foi crucificado; quando o Conquistador deu origem ao Império Britânico; quando Colombo se pôs ao mar; quando o massacre de Lexington era ainda uma notícia, em vez de um detalhe histórico. A mesma gota está caindo até hoje; e ainda estará caindo, com a mesma tediosa precisão, quando todos estes marcos históricos tiverem afundado no crepúsculo da história e na obscuridade da tradição, engolidos finalmente pela espessa noite do esquecimento. Será que realmente todas as coisas têm um propósito e uma missão a cumprir? Teria esta gota caído pacientemente durante cinco mil anos a fim de estar preparada para a necessidade transitória deste inseto humano, ou terá ainda algum objetivo significativo a atingir dentro de dez mil anos?
(Mark Twain - As aventuras de Tom Sawyer)
(Mark Twain - As aventuras de Tom Sawyer)