sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O "cão celestial"

Não se pode saber o que um homem deve perder por ter o valor de pisotear todas as convenções. Não se pode saber o que Diógenes perdeu por chegar a ser o homem que se permitiu tudo, que traduziu em atos seus pensamentos mais íntimos com uma insolência sobrenatural como o faria um deus do conhecimento, à sua vez libidinoso e puro. Ninguém foi mais franco; caso limite de sinceridade, lucidez e ao mesmo tempo exemplo do que poderíamos chegar a ser se a educação e a hipocrisia não freassem nossos desejos e nossos gestos.
"Um dia um homem lhe fez entrar em uma casa ricamente mobiliada e lhe disse: 'Sobretudo não cuspas no chão'. Diógenes, que estava com vontade de cuspir, lhe lançou o cuspe à cara, gritando-lhe que era o único lugar sujo que havia encontrado para poder fazê-lo" (Diógenes Laércio).

(Emil Cioran)

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