quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Não olho para as coisas...

Não olho para as coisas.
Definitivamente não olho para as coisas.
Quando olho para as coisas,
Olham para as coisas por meio dos meus olhos.

Meus óculos são grossos!
Se vejo injustiça, é um mártir qualquer que a chora.
Se contemplo a beleza, é um esteta que a examina.
Se observo um fenômeno, é um cientista que o explica.
Se procuro liberdade, é um político que aponta a direção.

Minhas palavras são externamente articuladas!
Digo "Estou feliz!" porque me disseram o que é felicidade.
Digo "Tenho pena!" por ter lido sobre a empatia.
Digo "Adeus!" seguindo regras de sociabilidade.
Digo "Te amo!" em resposta ao amor que recebo.

Sempre os outros...
Não sou a soma de experiências.
Sou, antes, anulado por elas.

Eu, substrato vazio de conteúdo,
Receptáculo universal de alteridades.
Eu, amontoado enciclopédico de argumentos,
Disposição organizada de alheios.

Eis o paradoxo desconcertante:
O que tenho de original me é emprestado de fora,
E minha introspecção se dá em terceira pessoa.
Tirando isso, eu sou.

(Eu mesmo)

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