Primeiro,
Eles usurparam a matemática,
A medicina, a arquitetura,
A filosofia, a religiosidade, a arte,
Dizendo tê-los criado
À sua imagem e semelhança.
Depois,
Eles separaram faraós e pirâmides
Do contexto africano,
Pois africanos não seriam capazes
De tanta inventiva e tanto avanço.
Não satisfeitos, disseram
Que nossos ancestrais tinham vindo de longe,
De uma Ásia estranha,
Para invadir a África,
Desalojar os autóctones,
Bosquimanos e hotentotes.
E escreveram a História ao seu modo.
Chamando nações de “tribos”,
Reis de “régulos”,
Línguas de “dialetos”.
Aí,
Lançaram a culpa da escravidão
Na ambição das próprias vítimas
E debitaram o racismo
Na nossa pobre conta.
Então,
Reservaram para nós
Os lugares mais sórdidos,
As ocupações mais degradantes,
Os papéis mais sujos.
E nos disseram:
- Riam! Dancem! Toquem!
Cantem! Corram! Joguem!
E nós rimos, dançamos, tocamos
Cantamos, corremos, jogamos.
Agora, chega!
(Nei Lopes)
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